Duas novas vacinas contra o HIV com tecnologia de RNA mensageiro apresentaram resultados promissores em testes de fase 1, em que 80% dos imunizados produziram anticorpos contra o vírus. O resultado do estudo foi publicado em 30 de julho na revista Science Translational Medicine.
O que aconteceu
Duas das três vacinas em teste utilizam tecnologia de mRNA (RNA mensageiro), similar a algumas desenvolvidas para combater o coronavírus. Este estudo clínico é apenas o terceiro que tenta utilizar os conhecimentos imunológicos aprendidos durante a pandemia para aplicar na imunização contra o vírus da Aids.
Todos os imunizantes estudados têm como alvo a proteína "envelope" da membrana mais externa do vírus, que ele usa para se ligar e infectar células humanas saudáveis. Após testes bem-sucedidos em coelhos descritos em um artigo complementar também na Science Translational Medicine, cientistas investigaram qual das vacinas seria mais eficiente para informar o corpo a respeito das características do vírus e inibir a infecção quando a exposição ocorresse.
Vacinas estimulam a fabricação de cópias desta proteína do HIV, mas em locais diferentes. A primeira abordagem utiliza um método mais tradicional em que a célula é direcionada pela vacina a produzir as tais proteínas "envelope" livres e circulantes —prontas a se ligar ao vírus. A segunda abordagem, com mRNA, instrui a célula a produzir as mesmas proteínas, mas ligadas à membrana celular, espelhando a estrutura do HIV.
Testes em humanos contaram com 108 pessoas saudáveis entre 18 e 55 anos em dez locais nos EUA. Os participantes foram divididos em três grupos —dois que receberam vacinas de mRNA e um que recebeu o modelo tradicional com proteínas livres. Todos os imunizantes foram fabricados pela farmacêutica Moderna.
Cada participante recebeu três doses (altas ou baixas) de apenas uma das vacinas, com intervalo de semanas entre elas. Participantes e pesquisadores não escolheram quais vacinas cada paciente tomaria; o imunizante foi determinado aleatoriamente.
Cerca de 80% dos participantes que receberam qualquer uma das vacinas com mRNA mensageiro produziram anticorpos capazes de bloquear o HIV de entrar na célula. No entanto, apenas 4% dos participantes que tomaram a vacina com proteína "envelope" livre produziram resposta imunológica.
Todas as três vacinas foram bem toleradas pela maioria dos participantes, tanto em doses altas quanto baixas. Apenas sete participantes (ou 6,5% dos estudados) tiveram reações, entre elas grandes erupções de pele que coçavam. Cinco deles manifestaram sintomas por mais de seis semanas, alguns por anos, já que testes se iniciaram em 2022. Reações foram vistas em pacientes que receberam todas as vacinas, em quaisquer doses.
de vacinas também foi testada. Outro ensaio clínico do mesmo grupo de pesquisadores, em maio, investigou uma estratégia para proteger pessoas de mais variantes do HIV: dando uma vacina inicial de mRNA e doses complementares das outras duas vacinas. Nestes testes realizados nos EUA, Ruanda e África do Sul, os resultados foram promissores.
No entanto, as reações adversas foram vistas em 18% dos pacientes. Isto é quase três vezes mais do que o esquema vacinal com apenas um imunizante. Os pesquisadores teorizam que o efeito adverso esteja relacionado a uma interação do mRNA e do HIV, mas eles ainda não puderam determinar exatamente como.
Próximas etapas devem focar no aprimoramento das vacinas com tecnologia de RNA mensageiro. Pesquisadores também querer diminuir efeitos colaterais e estudam uma estratégia que envolva doses menores, possivelmente, em cada etapa.
Como funcionam as vacinas com RNA mensageiro?
RNA ajuda no processo de transcrição e tradução das nossas características genéticas. Para produzir proteínas, nosso corpo naturalmente usa RNA (um tipo de ácido nucleico "primo" do DNA) que age como um intermediador capaz de expressar as informações presentes no nosso código genético. Para simplificar, o RNA ajuda no processo de transcrição e tradução das nossas características genéticas, que estão sempre contidas no DNA.

Cada um dos três tipos de RNA tem uma função específica. RNAr (RNA ribossômico): forma ribossomos que ligam aminoácidos em proteínas; RNAt (RNA transportador): leva aminoácidos ao interior das células, até o local de síntese de proteínas; RNAm (RNA mensageiro): transmite a mensagem genética para os ribossomos, indicando quais os aminoácidos e qual a sequência que devem compor as proteínas.
As vacinas usam o RNA mensageiro para se passar por uma proteína específica da membrana externa do vírus que ajudaria o invasor a entrar nas células humanas. No caso da covid-19, as vacinas "fingiam" ser a sua proteína spike.
Essa "cópia", no entanto, não é nociva como o vírus, mas é suficiente para desencadear uma reação das células do sistema imunológico. Ou seja, ele cria um repertório de defesa forte contra este invasor diante de um contato com o vírus no futuro.